segunda-feira, 4 de julho de 2011

O uso de programas televisivos como fonte histórica

A televisão, enquanto sistema de sons e imagens, começou a ser desenvolvido em 1923, sendo completado em 1927. Ele se tornou amplamente difundido após a Segunda Guerra Mundial, se aproveitando dos avanços tecnológicos disponíveis na época. No Brasil, ela chegou em 1948, mas, devido à dificuldade de transmissão e alto custo demorou, para se tornar o instrumento popular que é hoje.
Atualmente, não há como pensar em nossa sociedade sem relacioná-la com a televisão. Ela está inserida em nosso contexto, tanto cotidiano quanto global, fazendo parte de nossas histórias. Quem não se lembra, com saudade, dos programas que assistia quando era mais jovem? Podemos afirmar que a televisão é um próprio meio de entrar em contato com o passado, de voltar às suas raízes. Justamente por ter esse poder que a televisão pode ser usada como documento histórico, uma vez que (muitas vezes) está imerso na própria história de um determinado lugar, registrando os acontecimentos e se tornando elemento ativo da história.
Os pesquisadores de história têm encontrado certas dificuldades em trabalhar com o meio televisivo, devido a algumas barreiras que se colocam durante a pesquisa. Acerca disto, Marcos Napolitano em seu ótimo texto A história depois do papel, afirma:

A própria televisão, talvez devido ao seu caráter de produto cultural volátil, tem muita dificuldade em guardar e sistematizar a sua própria memória. Na medida em que os órgãos e arquivos públicos não assumiram a guarda do material televisual como parte de uma política de preservação de patrimônio, a maioria dos arquivos existentes é privada e pertence às próprias emissoras, que, por sua vez, os tratam como desdobramentos das suas atividades comerciais (NAPOLITANO, 2005; pag. 247-248)

Devido a estes problemas, muitos pesquisadores se sentem desmotivados para trabalhar com os arquivos referentes à televisão, pois eles não se enquadram na definição tradicional de “fonte histórica”. No entanto, mesmo com os problemas referentes aos direitos autorais e monopólio de arquivos por parte das emissoras, eles são dignos de serem estudados, por mostrar uma importante parte da história.

É preciso cuidado ao analisar a televisão como fonte histórica, pois ela tem um apelo social muito grande, sendo recebida de formas diferente pelas diversas camadas sociais. Além disso, é importante saber que a televisão é, muitas vezes, de caráter notadamente manipulativo, onde os programas são exibidos com finalidade de controlar ou direcionar uma parcela da população. Notadamente durante a ditadura militar, isso ocorreu de forma sistemática.
Mesmo que ela, por vezes, apresente este caráter, ainda é válido analisá-la. Muito pode ser aprendido se assim for feito. Nos arquivos das grandes emissoras de TV, existem verdadeiras jóias, como os festivais de música tradicionais dos anos 60, ou o a cobertura de momentos como a queda do Muro de Berlim. Se pensarmos neste sentido, podemos perceber a validade dos registros televisivos como fonte histórica, uma vez que ela nos fornece dados valiosos sobre a interpretação do passado. Logicamente, esses dados devem ser analisados com cautela, mas, não devemos, como sugerem alguns pesquisadores, descartar os registros televisivos totalmente. Fenômenos como a diversidade de mensagens emitidas pela televisão, impacto social que elas apresentam, e mistura de significados com outras mídias podem sim atrapalhar uma potencial pesquisa a respeito do assunto.
Talvez a maior dificuldade seja mesmo o caráter privado dos arquivos televisivos. Cabe ao pesquisador contornar este obstáculo para fazer uma boa pesquisa nesta área, considerada como pioneira por muitos estudiosos acerca de fontes históricas.

Bibliografia

NAPOLITANO, Marcos. A história depois do papel. In: Fontes históricas. Pinsky, Carla B.(org.). São Paulo: Contexto, 2005.

BOURDIEU, Pierre. Sobre a televisão. Ed. Jorge Zahar, 1997.

ORTIZ, R. A moderna tradição brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1988.

Discente: Brunno Silva Martins

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