quarta-feira, 6 de julho de 2011

Fontes impressas


     Dentre as inúmeras ferramentas conferidas aos que se lançam na pesquisa histórica as fontes impressas ganham cada vez mais destaque. E esse destaque não se dá unicamente pela imensa gama de material encontrado nos arquivos privados e públicos hoje em dia. O reconhecimento da importância de tal pesquisa se deve a algumas mudanças paradigmáticas sobre a abordagem metodológica dos documentos e as possibilidades de problematizarem-se os mesmos, trabalho esse de constante cautela e observação por parte dos historiadores.
    Cumpre então, profundo destaque na nossa abordagem a forma como os documentos impressos foram vistos nesse processo de renovação metodológica da historiografia.
    Tânia Regina de Luca aborda, a importância dada durante o século XIX pela historiografia rankeana aos documentos, ditos “reveladores”, que trariam a luz a tão desejada “verdade dos fatos” , metodologia essa tributária de uma historiografia que não enxergava o potencial imerso na problematização do documento.
     Com o advento da historiografia dos annales em suas mais diversas conceituações sobre a historia, aliada a uma renovação proveniente de uma profunda revisão do marxismo por parte de autores como E. P. Thompson, Perry Anderson e Eric Hobsbawm, para nos atermos a apenas alguns exemplos, pudemos vislumbrar uma outra forma de entender o documento.
    É através desse novo balanço metodológico que os estudos através da imprensa ganharam notoriedade principalmente a partir da década de 1960. Mesmo dotados de maior respaldo por parte dos pesquisadores, infelizmente, durante a primeira metade do século XX os documentos da imprensa ainda encontravam certo ceticismo por parte significativa dos historiadores que concebiam a pesquisa através desses tais meios como mera reprodutora de valores e interesses ideológicos das classes dominantes.
     Durante bastante tempo o limbo pareceu um local inevitável para a pesquisa em periódicos. Com uma  maior maturação da historiografia, essa fonte passou a ser olhada com mais cuidado e passou a ser um importante documento de estudos em diferentes áreas, como os de natureza econômica, demográfica além dos múltiplos aspectos da vida social e política de determinada época. Penso que o aspecto mais interessante dos estudos via imprensa acabam se mostrando justamente na capacidade que tais fontes conferem aos que querem problematiza-las, trabalho essencial a pesquisa histórica, e justamente uma dificuldade que compensa a pesquisa. Citando o exemplo de Gilberto Freyre que estudou diferentes aspectos da sociedade brasileira se valendo de anúncios em jornais do século XIX, podemos entender que tais pesquisas são sim muito viáveis, é necessário apenas observar alguns cuidados necessários para que obtenhamos bons resultados e não caímos nos deixemos levar por certas “armadilhas”, pois segundo Ana Maria de Almeida Camargo:

                 “corremos o risco de ir buscar num periódico precisamente aquilo    que queremos confirmar, o que em geral acontece quando desvinculamos uma palavra, uma linha, ou um texto inteiro de uma realidade”

. É justamente onde muitos enxergam apenas dificuldades diversas que o historiador deve exercer sua plena capacidade de problematizar seu objeto e sua fonte. A amplitude de possibilidades de pesquisa nessa área é imensa e se bem aproveitada pelos estudiosos podem render trabalhos de excelentes resultados.
Referências:
Pinsky, Carla B.(org.). Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2005.
Borges, Vavy Pacheco. O que é história. 2ª Ed. São Paulo: Brasiliense, 2007.
KARNAL, Leandro. TATSCH, Flavia Galli. A memória evanescente. In: O Historiador e suas fontes/ Carla Bassanezi Pinsky e Tania Regina de Luca (orgs.). – São Paulo : Contexto, 2009.

Por Giovanni Maciel

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