segunda-feira, 4 de julho de 2011

Sobre o uso de fontes fotográficas


Criada no século XIX, a fotografia, além de se constituir uma das mais emblemáticas invenções da modernidade, tornar-se-á um dos principais símbolos da cultura ocidental, calcada fundamentalmente nas imagens – dando a materialidade a cultura. Nesse sentido, a fotografia constitui-se não só como uma inovadora forma de se ver o mundo – um registro, uma imagem permanente, um fragmento de memória - mas também uma forma de expressão artística e importante referência documental no campo da pesquisa nas ciências sociais.

             Imagem da primeira fotografia permanente do mundo feita por Nicéphore Niépce, em 1825

No entanto, mais do que uma discussão no que se refere aos signos e significações que englobam a fotografia, um aspecto importante é como se dão esses processos de criação de sentidos e interpretação deste tipo de fonte.  Se em um primeiro momento, os retratos foram deixados de lado nas análises historiográficas, não se pode dizer o mesmo após a revolução documental desencadeada na Escola dos Annales.

 “Com a revolução documental das últimas décadas e, com o alargamento do conceito que o termo ‘documento’ passou a ter, a fotografia começou a ser tratada de forma diferenciada. ‘Não há história sem documentos’ assinalou Samaran. ‘Há que se tomar a palavra ‘documento’ no sentido mais amplo, documento escrito, ilustrado, transmitido pelo som, a imagem, ou de qualquer outra maneira.” (KOSSOY, p. 28)

neste caso, creio que um dos principais dilemas que não só o historiador, mas o pesquisador das ciências sociais e humanas de forma geral é lidar com a suposta objetividade do documento fotográfico. Portanto, devemos compreender a mesma em seu processo histórico. Segundo Justo (2008, p.31):
Assim, dada uma nova compreensão no sentido de fonte, o desafio se coloca em sua análise e critica interna; 


“É inerente à fotografia o corte, a seleção e, conseqüentemente, a lacuna. Não é possível nela capturar a realidade absoluta. Não se pode ter certeza do tempo e do espaço que a fotografia apresenta devido à sua materialidade estática e ao enquadramento fixo. Entretanto, estes aspectos limitantes da imagem fotográfica são justamente o que nos permite ir além do explícito. A transcendência do tempo e do espaço permite que a memória e a narrativa preencham as lacunas impostas pelo recorte fotográfico.”

Assim, a partir da colocação da autora acima, podemos extrair três elementos fundamentais na compreensão do documento fotográfico:

  1. Investigação da intencionalidade da fotografia;
  2. Interpretação do momento histórico em que este documento produzido se insere, bem como dos elementos presentes na fotografia;
  3. Crítica aos caminhos percorridos por essa fotografia, bem como as suas possíveis (re) significações.

Ainda no sentido da interpretação deste tipo de fonte, Boris Kossoy, importante referência na pesquisa de fontes fotográficas, nos traz em sua obra Fotografia e História (1989) interessante esquema de análise das mesmas.



Portanto, a partir dos argumentos expostos fica evidente o caráter não-objetivo da fotografia como se pensava inicialmente nos campos da pesquisa histórica; mais que isso, a mesma se mostra impregnada de sutis referências subjetivas desafiando a capacidade critica do pesquisador. Aos moldes do próprio ambiente em que se deu a gênese da fotografia – há mais de 200 anos atrás, na tentativa de se imprimir a objetividade – símbolo da racionalidade moderna – a fotografia, assim como o próprio homem moderno - ainda registra em suas linhas sutis toda a complexidade e urgência do sentimento humano.

Anna Lívia Gomes
História - 5°  Período

Referências Bibliográficas

KOSSOY, Boris. A fotografia como fonte histórica; introdução à pesquisa e interpretação das imagens do passado. São Paulo, Museu da Ind. Com. e Tecnologia de São Paulo - SICCT -1980.

KOSSOY, Boris. Fotografia e História. São Paulo, Ateliê Editorial. 1989.

JUSTO, Joana Sanches. Olhares que contam histórias: a fotografia como memórias e narrativas da família. 2008. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras de Assis, Assis, 2008.

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