segunda-feira, 27 de junho de 2011

História e Cinema

A busca de meios didáticos/pedagógicos para relembrar a importância de um passado histórico é necessária na medida em que se procura um sentido de continuidade dialética ao acontecimento. Assim, pensamos em utilizar o recurso Audiovisual a fim de inserir o aluno no contexto histórico no intuito de relembrá-lo da importância da utilização de um conhecimento passado para a construção do saber presente.
O papel do docente se constitui em “orquestrar” um potencial emergente de idéias e interesses no intuito de apresentar um caminho, objetivando o espetáculo onde diversas mentes se interagem formando um pensamento com diversas vertentes que se complementam e atingem os objetivos esperados.
O fato está ligado no que disse Elias Thomé Saliba, à manipulação cultural e a transformação de acontecimentos em ícones parcialmente tendenciosos. O incentivo a uma real interpretação (ou pelo menos parcial) deve ser feita estabelecendo um aparato de meios de conhecimento bilaterais sobre o tema proposto, proporcionando a criação de um alicerce teórico, individual e reflexivo de cada aluno referente ao objeto de pesquisa.
Compartilhando o que disse Selva Guimarães Fonseca e a teoria de Jaime e Carla Pinky; é necessário a introdução de recursos tecnológicos nas práticas docentes incentivando a pesquisa e o pensamento crítico/analítico de meios de informações não tão confiáveis que estão à disposição e devido a facilidade são, cada vez mais, sendo utilizados pelos nossos alunos. Não se trata de privar tais alunos da utilização desses recursos mais, pelo contrário, incentivá-los – policiando-os e orientando-os – para uma utilização adequada, sem ingenuidade e nostalgia.
Combate-se assim, o que explica a professora Maria de Lourdes M. Janotti, o conhecimento do presente por ele próprio, mais sim através de um conhecimento histórico adquirido através de fontes confiáveis, sempre guiados pelo docente.

Referências bibliográficas:

NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de aula. São Paulo: Editora Contexto, 2 ª Edição, 2004.
PINSKY, Jaime; PINKSY, Carla Bassanezi. O que e como Ensinar: Por uma História Prazerosa e Conseqüente. In: KARNAL, Leandro (org.) História na Sala de Aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Editora Contexto, 5ª EdiçãoFERREIRA
SILVA, Marcos; FONSECA, Selva Guimarães. Ensinar História no Século XXI: Em busca do tempo entendido. Campinas: Editora Papirus, 2007.
FONSECA, Selva Guimarães. Didática e Prática de Ensino de História: Experiências, reflexões e aprendizados. Campinas: Editora Papirus, 2003.
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. História nas atuais propostas curriculares. In:Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Editora Cortez, 2004.

Por Gabriel Costa

sábado, 25 de junho de 2011

Fontes para o Ensino de História.


Pensar o ensino de história para a educação básica implica em rever as histórias que eram ensinadas até os dias de hoje. Mediante a isso inicio minha reflexão com uma citação de Sérgio Buarque de Holanda:


“Para estudar o passado de um povo, de uma instituição, de uma classe, não basta aceitar ao pé da letra tudo quanto nos deixou a simples tradição escrita. É preciso fazer falar a multidão imensa dos figurantes mudos que enchem o panorama da história e são muitas vezes mais interessantes e mais importantes do que os outros, os que apenas escrevem a história.” (HOLANDA apud BITTENCOURT, 2008, p.185)



Frente a essa posição então de que a história deve ser vista também com o olhar das multidões e não apenas dos grandes nomes que se perpetuaram no tempo, quero pensar que a História do Brasil está ligada ao processo de formação de uma identidade nacional, identidade essa que até então sempre foi tratada como homogênea e em sua constituição sem participação de culturas ou povos diferentes, ou seja, sem tratar da diversidade cultural que constitui o povo brasileiro (BITTENCOURT).
Eis então um desafio ao professor, o ensino de história. Achar uma solução para tal situação não é tão fácil, e nem pretendo aqui propor uma receita de bolo, mas sim pensar sobre as formas de se ensinar história, em especial o ensino fundamental. Para isso então proponho a utilização de um tipo de fonte onde seja possível a percepção do aluno sobre os elementos que deve-se perceber.
A utilização de um tipo de fonte primeiramente deve ser pensada com cuidado para cada série específica do ensino fundamental – assim como no ensino médio – para não inviabilizar a atividade, sendo assim não se deve utilizar um filme que apresenta uma linguagem difícil para alunos do 6º ano por exemplo (NAPOLITANO). Com o mesmo cuidado deve-se escolher os tipos de fontes e seu conteúdo, pensando em sua acessibilidade, os objetivos que se pretende atingir com aquele tipo de fonte etc.
Pois bem, proponho então a utilização de uma fonte documental para o 7º ano do ensino fundamental, o documento seria utilizado para se compreender um dos olhares sobre a sociedade escravocrata no Brasil durante o século XIX. Para tal reflexão seria utilizado a transcrição de uma carta escrita por um ex-escravo em 1880, no qual há o relato de sua trajetória no Brasil desde que seu pai o vendera como escravo. O agente em questão é Luiz Gama, poeta negro, livre que é vendido pelo pai aos dez anos, passa por vários senhores até que é alfabetizado passando a lutar pela sua liberdade roubada e pela liberdade de outros cativos.
A reflexão que emerge aqui então é como um filho de escrava liberta, portanto livre, assume uma condição de escravo e principalmente como este enxerga a sociedade em que está imerso. Através desse olhar expresso na carta escrita por Gama percebemos os elementos fundamentais da sociedade brasileira do século XIX, principalmente quando há a narrativa dos diálogos entre Luiz Gama e seu senhor que se nega a dar a liberdade ao escravo.

Anexo

São Paulo, 25 de julho de 1880

Meu caro Lúcio

Recebi o teu cartão com a data de 28 do pretérito.
Não me posso negar ao teu pedido, porque antes quero ser acoimado de ridículo, em razão de referir verdades pueris que me dizem respeito, do que vaidoso e fátuo, pelas ocultar, de envergonhado: aí tens os apontamentos que me pedes e que sempre eu os trouxe de memória.
Nasci na cidade de S. Salvador, capital da província da Bahia, em um sobrado da rua do Bângala, formando ângulo interno, em a quebrada, lado direito de quem parte do adro da Palma, na Freguezia de Sant'Ana, a 21 de junho de 1830, por as 7 horas da manhã, e fui batizado, 8 anos depois, na igreja matriz do Sacramento, da cidade de Itaparica.
Sou filho natural de uma negra, africana livre, da Costa Mina (Nagô de Nação), de nome Luiza Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã.
Minha mãe era baixa de estatura, magra, bonita, a cor era de um preto retinto e sem lustro, tinha os dentes alvíssimos como a neve, era muito altiva, geniosa, insofrida e vingativa.
Dava-se ao comércio — era quitandeira, muito laboriosa, e mais de uma vez, na Bahia, foi presa como suspeita de envolver-se em planos de insurreições de escravos, que não tiveram efeito.
Era dotada de atividade. Em 1837, depois da Revolução do dr. Sabino, na Bahia, veio ela ao Rio de Janeiro, e nunca mais voltou. Procurei-a em 1847, em 1856 e em 1861, na Corte, sem que a pudesse encontrar. Em 1862, soube, por uns pretos minas que conheciam-na e que deram-me sinais certos, que ela, acompanhada com malungos desordeiros, em uma "casa de dar fortuna", em 1838, fora posta em prisão; e que tanto ela como os seus companheiros desapareceram. Era opinião dos meus informantes que esses "amotinados" fossem mandados por fora pelo governo, que, nesse tempo, tratava rigorosamente os africanos livres, tidos como provocadores.
Nada mais pude alcançar a respeito dela. Nesse ano, 1861, voltando a São Paulo, e estando em comissão do governo, na vila de Caçapava, dediquei-lhe os versos que com esta carta envio-te.
Meu pai, não ouso afirmar que fosse branco, porque tais afirmativas neste país, constituem grave perigo perante a verdade, no que concerne à melindrosa presunção das cores humanas: era fidalgo; e pertencia a uma das principais famílias da Bahia, de origem portuguesa. Devo poupar à sua infeliz memória uma injúria dolorosa, e o faço ocultando o seu nome.
Ele foi rico; e, nesse tempo, muito extremoso para mim: criou-me em seus braços. Foi revolucionário em 1837. Era apaixonado pela diversão da pesca e da caça; muito apreciador de bons cavalos; jogava bem as armas, e muito melhor de baralho, amava as súcias e os divertimentos: esbanjou uma boa herança, obtida de uma tia em 1836; e, reduzido à pobreza extrema, a 10 de novembro de 1840, em companhia de Luiz Cândido Quintela, seu amigo inseparável e hospedeiro, que vivia dos proventos de uma casa de tavolagem na cidade da Bahia, estabelecida em um sobrado de quina, ao largo da praça, vendeu-me, como seu escravo, a bordo do patacho "Saraiva".
Remetido para o Rio de Janeiro, nesse mesmo navio, dias depois, que partiu carregado de escravos, fui, com muitos outros, para a casa de um cerieiro português, de nome Vieira, dono de uma loja de velas, à rua da Candelária, canto da do Sabão. Era um negociante de estatura baixa, circunspeto e enérgico, que recebia escravos da Bahia, à comissão. Tinha um filho aperaltado, que estudava em colégio; e creio que três filhas já crescidas, muito bondosas, muito meigas e muito compassivas, principal-mente a mais velha. A senhora Vieira era uma perfeita matrona: exemplo de candura e piedade. Tinha eu 10 anos. Ela e as filhas afeiçoaram-se de mim imediatamente. Eram cinco horas da tarde quando entrei em sua casa. Mandaram lavar-me; vestiram-me uma camisa e uma saia da filha mais nova, deram-me de cear e mandaram-me dormir com uma mulata de nome Felícia, que era mucama da casa.
Sempre que me lembro desta boa senhora e de suas filhas, vêm-me as lágrimas aos olhos, porque tenho saudades do amor e dos cuidados com que me afagaram por alguns dias.
Dali saí derramando copioso pranto, e também todas elas, sentidas de me verem partir.Oh! eu tenho lances doridos em minha vida, que valem mais do que as lendas sentidas da vida amargurada dos mártires. Nesta casa, em dezembro de 1840, fui vendido ao negociante e contrabandista alferes Antônio Pereira Cardoso, o mesmo que, há 8 ou 10 anos, sendo fazendeiro no município de Lorena, nesta Província, no ato de o prenderem por ter morto alguns escravos a fome, em cárcere privado, e já com idade maior de 60 a 70 anos, suicidou-se com um tiro de pistola, cuja bala atravessou-lhe o crânio.
Este alferes Antônio Pereira Cardoso comprou-me em um lote de cento e tantos escravos; e trouxe-nos a todos, pois era este o seu negócio, para vender nesta Província.
Como já disse, tinha eu apenas 10 anos; e, a pé, fiz toda viagem de Santos até Campinas.
Fui escolhido por muitos compradores, nesta cidade, em Jundiaí e Campinas; e, por todos repelido, como se repelem cousas ruins, pelo simples fato de ser eu "baiano".
Valeu-me a pecha!
O último recusante foi o venerando e simpático ancião Francisco Egidio de Souza Aranha, pai do exmo. Conde de Três Rios, meu respeitável amigo.
Este, depois de haver-me escolhido, afagando-me disse: "— Hás de ser um bom pajem para os meus meninos; dize-me: onde nasceste?
— Na Bahia, respondi eu. — Baiano? — exclamou admirado o excelente velho. — Nem de graça o quero. Já não foi por bom que o venderam tão pequeno". Repelido como "refugo", com outro escravo da Bahia, de nome José, sapateiro, voltei para a casa do sr. Cardoso, nesta cidade, à rua do Comércio nº 2, sobrado, perto da igreja da Misericórdia.
Aí aprendi a copeiro, a sapateiro, a lavar e a engomar roupa e a costurar.
Em 1847, contava eu 17 anos, quando para a casa do sr. Cardoso, veio morar, como hóspede, para estudar humanidades, tendo deixado a cidade de Campinas, onde morava, o menino Antônio Rodrigues do Prado Júnior, hoje doutor em direito, ex-magistrado de elevados méritos, e residente em Mogi-Guassu, onde é fazendeiro.
Fizemos amizade íntima, de irmãos diletos, e ele começou a ensinar-me as primeiras letras.
Em 1848, sabendo eu ler e contar alguma cousa, e tendo obtido ardilosa e secretamente provas inconcussas de minha liberdade, retirei-me, fugindo, da casa do alferes Antônio Pereira Cardoso, que aliás votava-me a maior estima, e fui assentar praça. Servi até 1854, seis anos; cheguei a cabo de esquadra graduado, e tive baixa de serviço, depois de responder a conselho, por ato de suposta insubordinação, quando tinha-me limitado a ameaçar um oficial insolente, que me havia insultado e que soube conter-se.
Estive, então, preso 39 dias, de 1º de julho a 9 de agosto. Passava os dias lendo e às noites, sofria de insônias; e, de contínuo, tinha diante dos olhos a imagem de minha querida mãe. Uma noite, eram mais de duas horas, eu dormitava; e, em sonho vi que a levavam presa. Pareceu-me ouvi-la distintamente que chamava por mim. Dei um grito, espavorido saltei da tarimba; os companheiros alvorotaram-se; corri à grade, enfiei a cabeça pelo xadrez. Era solitário e silencioso e longo e lôbrego o corredor da prisão, mal alumiado pela luz amarelenta de enfumarada lanterna.
Voltei para a minha tarimba, narrei a ocorrência aos curiosos colegas; eles narraram-me também fatos semelhantes; eu caí em nostalgia, chorei e dormi.
Durante o meu tempo de praça, nas horas vagas, fiz-me copista; escrevia para o escritório do escrivão major Benedito Antônio Coelho Neto, que tornou-se meu amigo; e que hoje, pelo seu merecimento, desempenha o cargo de oficial-maior da Secretaria do Governo; e, como amanuense, no gabinete do exmo. sr. conselheiro Francisco Maria de Souza Furtado de Mendonça, que aqui exerceu, por muitos anos, com aplausos e admiração do público em geral, altos cargos na administração, polícia e judicatura, e que é catedrático da Faculdade de Direito, fui eu seu ordenança; por meu caráter, por minha atividade e por meu comportamento, conquistei a sua estima e a sua proteção; e as boas lições de letras e de civismo, que conservo com orgulho.
Em 1856, depois de haver servido como escrivão perante diversas autoridades policiais, fui nomeado amanuense da Secretaria de Polícia, onde servi até 1868, época em que "por turbulento e sedicioso" fui demitido a "bem do serviço público", pelos conservadores, que então haviam subido ao poder. A portaria de demissão foi lavrada pelo dr. Antônio Manuel dos Reis, meu particular amigo, então secretário de polícia, e assinada pelo exmo. dr. Vicente Ferreira da Silva Bueno, que, por este e outros atos semelhantes, foi nomeado desembargador da relação da Corte.
A turbulência consistia em fazer eu parte do Partido Liberal; e, pela imprensa e pelas urnas, pugnar pela vitória de minhas e suas idéias; e promover processos em favor de pessoas livres criminosamente escravizadas; e auxiliar licitamente, na medida de meus esforços, alforrias de escravos, porque detesto o cativeiro e todos os senhores, principalmente os Reis.
Desde que fiz-me soldado, comecei a ser homem; porque até os 10 anos fui criança; dos 10 aos 18, fui soldado. Fiz versos; escrevi para muitos jornais; colaborei em outros literários e políticos, e redigi alguns.
Agora chego ao período em que, meu caro Lúcio, nos encontramos no "Ipiranga", à rua do Carmo, tu, como tipógrafo, poeta, tradutor e folhetinista principiante; eu, como simples aprendiz-compositor, de onde saí para o foro e para a tribuna, onde ganho o pão para mim e para os meus, que são todos os pobres, todos os infelizes; e para os míseros escravos, que, em número superior a 500, tenho arrancado às garras do crime.
Eis o que te posso dizer, às pressas, sem importância e sem valor; menos para ti, que me estimas deveras.

Teu Luiz.


Acredito então que a utilização de tais fontes em sala de aula, e no caso fontes produzidas com olhares das multidões em contraponto ao livro didático ou material, faz emergir questões sobre a época retratada e principalmente a postura crítica, despertando assim o interesse do aluno.
É mediante a utilização desse documento que os alunos poderão perceber se questionar sobre a identidade da sociedade brasileira do século XIX, quais elementos a constituem e quais os olhares tendem a hegemonia nesse período. Aliado ao documento o aluno poderá analisar também as obras poéticas de Luiz Gama.


Referências:

BITTENCOURT, Circe. Identidade Nacional e ensino de história no Brasil. IN KARNAL, L. História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. 5ª ed. São Paulo: Contexto, 2008

MARTINS, Heitor. Luís Gama e a Consciência Negra na Literatura Brasileira. Disponível em: http://www.afroasia.ufba.br/pdf/afroasia_n17_p87.pdf (acesso em 24/06/11)

MATTOS, Hebe Maria. A Face Negra da Abolição. In: Revista Nossa História. Maio de 2005.

Rodrigo P. L. Domiciano

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Receita para um bom Historiador






Ingredientes:

1 Recorte na História
2Kg de fundamentação teórica
2,5 kg de paixão pelo tema
1/2 copo (tipo americano) de tempo
1 ambiente tranquilo
2 pacotes de fontes
1 caderno com muitas folhas em branco
Orientação ( a gosto)
Financiamento de Pesquisa
2 doses de discussões
5 kg de crítica
10 kg de leituras

Modo de Preparo:

Em uma tigela adicione o Recorte na História junto com a paixão pelo tema, mexa bem. Deixe descansar em temperatura ambiente por duas horas, adicione aos poucos Tempo, Fontes e não se esqueça do bom e velho Caderno em Branco.

Em uma panela leve a mistura ao fogo baixo até que a mistura atinja consistencia. Retire do fogo, espere esfriar e despeje em uma forma untada com Orientação e separe.

A parte misture Crítica, Leitura e discussões, depois despeje sobre a massa e levve ao forno.

Após assado, polvilhe com Financiamento de Pesquisa a vontade.


Anna Lívia Gomes, Marcus Oliveira, Rodrigo Peres L. Domiciano, Keyller Rodrigues

quinta-feira, 23 de junho de 2011

RECEITA: O BOM HISTORIADOR




Ingredientes:

·  Um pacote com o máximo de livros disponíveis;
·  Uma pessoa comum;
·  1 Kg de aptidão;
·  5 Kg de interesse;
·  Diversas porções de professores universitários;
·  500g de boas amizades;
·  Dois cadernos com, no mínimo, 500 folhas cada;
·  Disposição à vontade;
·  Paciência; (opcional)

A receita deve ser feita em ambiente universitário de alta qualidade para um melhor aproveitamento do ingrediente principal, a pessoa.

Modo de Preparo:

 - Colocar a pessoa comum no citado ambiente e ficar atento para os recheios, são eles que irão dar a consistência esperada.
- Preencher os espaços vazios com aptidão e interesse; ressalta-se que toda pessoa vem com essas características de fábrica, porém, se julgar necessário, a quantidade pode ser aumentada.
- Introduzir as boas amizades para que esta pessoa possa chegar ao ponto e somente depois acrescentar as porções de professores;
- É necessário estar com os cadernos sempre à disposição, eles serão de extrema importância para anotar as recomendações de leitura.
- O pacote de livros é extenso então, julga-se salutar considerar o ingrediente opcional (paciência), pois, sem ela, a pessoa poderá não chegar ao ponto e sua receita não funcionara. Ressalva-se que, em raríssimos casos, sem a paciência, chega-se a um ótimo resultado, entretanto a pessoa ficará amarga e os amigos acrescentados serão desperdiçados.
 - Deixe assar por no mínimo quatro anos e seu historiador estará pronto! Aproveite.

Os caminhos percorridos àquele que deseja se tornar um bom historiador é marcado por grandes desafios e obstáculos. Estes empecilhos são dispostos nesta trilha a fim de atingirem todo o potencial que o candidato é capaz alcançar e estão presentes em características peculiares como a curiosidade, o gosto pela leitura, a dedicação, persistência, criatividade, inspiração, paciência e principalmente gosto e amor pelo ofício.
Acreditamos que o ato de pesquisa é o motor que propulsiona a alegria do saber. Todo conhecimento é muito melhor aproveitado quando o receptor é o agente da pesquisa; ser historiador é privilegiar essa característica em todos os momentos da carreira.
As curiosidades pelos fatos, que estão presentes em nossas vidas, nos fazem buscar a sua origem e nesta caminhada nos deparamos com diversos outros acontecimentos que nos propulsionam ao desejo do conhecimento infinito. Neste sentido seria impossível pensar em um agente do estudo histórico, sem pensar em uma pessoa ambiciosa pelo conhecimento e explicação de fatos.
Pensar que o exercício da pesquisa é uma tarefa fácil é titubear na grande quantidade de fontes existentes sem um critério acadêmico de análise ocorrendo, assim, em possíveis erros que podem ser refletidos em irreversíveis prejuízos, uma vez que estamos lhe dando com a criação e/ou sustentação de teorias e análises de fatos vividos.
A interpretação, algo tão particular e aceitável no mundo acadêmico, é uma artifício cuidadosamente utilizado pelo historiador que encara uma afirmação como algo questionável, levando em consideração todos os fatores históricos que a fizeram ser proferida. Assim, a pesquisa se torna um verdadeiro labirinto com diversos outros caminhos onde nem sempre levarão a um mesmo destino.
Assim, o bom historiador deve sempre estar atento aos fatores elencados acima para se respaldar em sua pesquisa tendo a ética e o amor pela verdade como motores propulsores que o ajudarão a atingir, com maior perfeccionismo, seus estudos dando suporte para que se de início a outros Afinal, o desejo pelo saber e o gosto pela pesquisa é o objetivo de todo historiador.

Gabriel Costa
Giovanni Maciel
José Hailton Quaresma

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Reencontrando a história


Há muito tempo, com efeito, nossos grandes precursores, Michelet, Fustel de Coulanges, nos ensinaram a reconhecer: o objeto da história é, por natureza, o homem. Digamos melhor: os homens. Mais que o singular, favorável à abstração, o plural, que o modo gramatical da relatividade, convém a uma ciência da diversidade. Por trás dos grandes vestígios sensíveis da paisagem, [os artefatos ou as máquinas,] por trás dos escritos aparentemente mais insípidos e as instituições aparentemente mais desligadas daqueles que as criaram, são os homens que a história quer capturar. Quem não conseguir isso será apenas, no máximo, um serviçal da erudição. Já o bom historiador se parece com o ogro da lenda. Onde fareja carne humana, sabe que ali está a sua caça” .Marc Bloch

As questões que guiam nossas reflexões sobre as diferentes definições metodológicas que a historiografia vem conhecendo no seu contínuo processo de renovação crítica, devem desde já conter um fundamento que respeita uma característica marcante dos estudos históricos atuais, a necessidade do historiador de problematizar suas fontes e subtrair das mesmas as diversas possibilidades que são conferidas por tal ato.

Mesmo imbuída de uma capacidade reflexiva apurada a atuação do historiador é exposta cada vez mais a um universo de incertezas que de certa forma vem contribuindo profundamente no processo de renovação metodológica da historiografia.

Mesmo assim, a atuação do historiador em seu ofício carrega uma enorme quantidade de dilemas que não se limitam unicamente à difícil tarefa de problematização documental. Esses dilemas carregam um teor problemático que vigora há tempos na historiografia moderna e que se mostra profundo através da forma como será aplicada a análise metodológica desses documentos. É justamente esse conceito de discussão das matrizes metodológicas que vem sendo exaustivamente estudados por diversos historiadores ao longo do século XX, que conferem um contínuo caráter renovador ao estudo da história. Uma importante renovação dos preceitos norteadores do ofício do historiador se deu em 1929 com o surgimento na França da revista Annales d’Histoire Economique et Sociale, uma nova corrente metodológica possibilitou a historiografia um grande salto qualitativo. Tornou-se efetiva a possibilidade de desvincular a historiografia dos métodos majoritariamente aplicados durante grande parte do século anterior que faziam da disciplina um simples compêndio de informações que teriam a função de narrar os “grandes acontecimentos”, os “grandes fatos”, os feitos dos “grandes heróis” e pautada exclusivamente por uma reflexão das mudanças políticas promovidas por tais ações. Essa corrente, tributária da metodologia de Leopold Von Ranke, dominante no século XIX legou à historiografia que a sucedeu uma forte tradição no entendimento de conceitos generalizantes como a verdadeira função da historia, ou seja, a de explicar os fenômenos históricos através de grandes movimentos e escalas cujo entendimento na construção do conhecimento histórico se daria unicamente através de contínuas mudanças políticas no tecido social possibilitando uma compreensão totalizante das ações dos homens no tempo.

O que Marc Bloch e Lucien Febvre fizeram foi justamente ressaltar o verdadeiro papel do homem na ciência que estudavam, ou seja, o de agente fundamental na sua produção, sendo esse homem um grande político, um renomado intelectual ou um simples camponês, a todos é outorgado o papel de agente de transformação histórica. As diferentes possibilidades de análise documental que ambos buscaram elucidar trouxeram uma maior capacidade reflexiva aos historiadores, e consequentemente as reflexões sobre o papel desenvolvido pela sua ciência. Fundado em preceitos que, se pautaram sempre na interação com as demais ciências humanas em proveito do conhecimento histórico, o movimento dos annales passou a desenvolver e defender modelos metodológicos que não se faziam engessados e estáticos, ao contrário, os annales, ao abarcarem a multiplicidade de doutrinas e posicionamentos que as demais ciências ofereciam souberam refletir essa diversidade no seu contínuo processo de transformação.

Surgiram assim, ao longo do século passado, inúmeras correntes dentro dos annales que buscaram trazer sua contribuição para com a historiografia. O surgimento de uma vertente que buscou elucidar a história em pequenos recortes e movimentos apareceu em contraponto a essa tendência generalizante anteriormente citada. Essa corrente, capitaneada por uma impetuosa voluntariedade em abordar a história sob um olhar microanalítico se posicionou de certa forma como uma nova opção aos estudos embasados nas análises macroanalíticas o que nos leva a uma confrontação dos diferentes modelos.

Ao pesquisador um objeto subsidia inúmeras possibilidades de pesquisa e, quando aplicado um referencial metodológico que o mesmo vê como adequado são encontradas as condições necessárias para a pesquisa histórica. Por esse motivo a discussão sobre o modelo a ser seguido de fato vem sendo motivo para diversas e acaloradas discussões entre pesquisadores de diversas correntes, e a hegemonia de um sobre o outro reflete também a hegemonia de um método de escrita da história.

Não nos esqueçamos que a pesquisa histórica está intimamente ligada ao calçamento subjetivo de quem a realiza e por isso não pode ser desvinculada da ótica metodológica que o historiador transmite a sua obra. O triunfo dessa corrente reflete as necessidades cada vez mais visíveis que nossos tempos acabam impondo aos que se dedicam a entendê-lo, ou seja, a diversidade de discursos e recortes que não mais balizam uma pesquisa que se atenha ao entendimento maior da historia sem antes apontar diversas inconstâncias e possibilidades no discurso da produção da pesquisa histórica. Ao lançarmos vistas a essa nova ótica da pesquisa histórica podemos talvez

Mas também não devemos nos esquecer que o objetivo de se fazer uma narrativa que abarque uma “historia total” ou o “vôo da águia”, é possível a aqueles que se dedicam de forma incessante aos estudos e procuram estruturar sua construção do saber histórico continuamente no pluralismo.

Sendo assim ressaltar a importância de uma pesquisa diversificada, que seja construída de forma reflexiva e plural acaba se mostrando a melhor forma de nos posicionarmos.

Cabe a nós, futuros historiadores, definirmos a forma como enfrentaremos essas diversidades. Mas fica a sugestão de sempre buscarmos lançar olhares para a possibilidade de promoção do diálogo entre as vertentes que se fazem presentes na nossa caminhada rumo aos domínios de Clio.


Gabriel Costa; Giovanni Maciel e José Hailton Quaresma