Discussão a respeito dos conjuntos documentais e suas formas de utilização pelos historiadores.
quarta-feira, 6 de julho de 2011
Documento histórico
Fontes impressas
terça-feira, 5 de julho de 2011
A História Indígena por meio das fontes manuscritas do século XVIII e XIX
Portanto, o tema por mim escolhido e que será trabalhado nesta breve contribuição ao blog é a História Indígena. Mas quais as possibilidades de análise e pesquisa a partir de um tipo específico de fonte? Qual fonte utilizar para tratar deste tema?
Sabemos que as sociedades indígenas são ágrafas, ou seja, desconhecem a escrita. Porém, utilizam a tradição oral para perpetuar e conservar acontecimentos do grupo que, passados por gerações, nos permitem compreender a história de diferentes etnias.
Mas o que pretendo demonstrar é que muitas vezes, para se pesquisar a história indígena brasileira, teremos que recorrer aos arquivos e às fontes manuscritas, muitas do século XVIII e XIX, produzidas por autoridades a serviço da Coroa Portuguesa, como os governadores das Capitanias.
Aventurar-se em arquivos à procura daqueles documentos que enriquecerão a sua pesquisa, demanda tempo. O historiador muitas vezes ao manusear estas fontes manuscritas, se depara com inúmeros personagens, com sua vida, alegrias, sofrimentos, expectativas...
Palacin, Garcia e Amado, definem os documentos como
[...] vozes do passado. Ao conhecê-los, dialogamos com os mortos. Descobrimos que, tal como os vivos, cada morto tem um tipo de temperamento, assim como interesses pessoais e coletivos a defender ou combater, objetivos, sonhos, emoções; cada qual construiu sua própria história, ao mesmo tempo individual e social. (Palacin, Garcia, Amado, 1995, p.5).
Nos Arquivos Cartoriais, do Poder Executivo, Legislativo e Judiciário, assim como os Arquivos eclesiásticos e privados, encontramos um grande número de fontes manuscritas. Documentos importantes para a pesquisa da história indígena são as correspondências, ofícios ou requerimentos, presentes principalmente nos arquivos do Poder Executivo.
Como exemplo, pretendo apresentar um trecho de um documento manuscrito que se encontra no Centro de Memória Digital da UnB (CMD/UnB), pertencente ao Arquivo Ultramarino, datado de 28 de Maio de 1753. É uma provisão (cópia) do Rei Dom José, ao governador da Capitania de Goiás, Dom Marcos de Noronha, o Conde dos Arcos:
Dom Jose de Deus Rey de Portugal e dos Algarves daqui e dalem mar de Guiné. (Va) Faço saber a voz Conde dos Arcos, Govdor. E Capm General da Cap.nia de Goyaz, q (so vi) a vossa carta de 24 de Janro de 1751, sobre as hostilidades q. o Gentio Cayapó fizera ao da Nação Araxás [...] ; e de se ter estabelecido no Rio Claro huma Aldeya com alguns, q. Antonio Pires poderia Reduzir, com o q, mandareis fazer varias despezas da Faz.da Rl e sendo neste particular ouvido o Procurador. De minha Fazda. [...] determinar e leve em conta esta despeza, e aprovar tudo o q. nesta matéria tendo feito.
Alguns pontos devem ser considerados neste documento: quem o produziu? Qual a data? Sobre qual região trata esta Provisão? O que ocorria nesta região neste período? Quais etnias indígenas estão mencionadas? Qual (is) pessoas são mencionadas? Qual sua importância?
As fontes, como toda produção humana, foram produzidas com uma intencionalidade. Um documento não exprime a verdade absoluta, por isso, uma análise crítica mostra-se extremamente importante para o historiador, assim como uma correta problematização do seu objeto de pesquisa.
Ao trabalhar com fontes manuscritas, cabe ao historiador, além da utilização de um referencial teórico-metodológico, estar “ciente do evoluir histórico de toda a estrutura da administração pública ao longo do tempo” (BACELLAR, 2005, p.43). Este conhecimento prévio permite ao pesquisador o correto direcionamento aos Arquivos que acondicionam as fontes que por ele serão utilizadas.
Fonte Manuscrita:
Arquivo Ultramarino – Projeto Resgate – Goiás. AHU - Cx.8, Doc.:569. (1753);
Referências Bibliográficas:
BACELLAR, Carlos. Uso e mau uso dos arquivos. In: PINSKY, Carla (org.). Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2005.
PALACIN, Luís; GARCIA, Ledonias Franco; AMADO, Janaína. História de Goiás em documentos. I. Colônia. Goiânia: Editora da UFG, 1995.
Fontes históricas e a revisão bibliográfica
“O estudo do passado não pode ser feito diretamente, mas de forma mediada através dos vestígios da atividade humana, a que é dado o nome genérico de fontes históricas. Embora com ligeiras cambiantes no significado, também se utilizam termos como documentos, testemunhos, vestígios ou monumentos. As fontes podem ser classificadas segundo vários pontos de vista, mas vamos aqui referir apenas as fontes materiais, as escritas, as iconográficas e as orais.
As fontes materiais ou documentos figurados constituem os vestígios materiais da atividade humana e que incluem as fontes arqueológicas em geral, os instrumentos de trabalho, os monumentos, as moedas, entre muitas outras. Algumas ciências auxiliares da história são dedicadas a este tipo de fontes, como a Arqueologia, a Numismática e a Sigilografia. No campo da História da Farmácia, estas fontes são muito importantes e incluem aquelas (almofarizes, potes de outros artefatos de farmácia) a cuja conservação se dedicam os museus de farmácia.
As fontes escritas são geralmente as de utilização mais geral e distinguem-se entre si pelo suporte e técnica utilizados na escrita. No estudo das épocas Moderna e Contemporânea, as fontes escritas utilizadas são normalmente classificadas em manuscritas (uma carta de boticário, uma receita) e impressas (uma farmacopéia, um periódico farmacêutico). Das fontes escritas se ocupam ciências auxiliares como a Paleografia, a Filologia, a Epigrafia, a Papirologia, a Diplomática. As fontes iconográficas são as que representam imagens (uma gravura, uma fotografia, um filme). As fontes orais incluem toda a informação e tradição que é conservada na memória dos indivíduos e transmitida oralmente de uns para outros. Estas fontes são particularmente importantes no estudo da história dos povos primitivos.” (J. P. Sousa Dias)
Para nós, historiadores, qualquer vestígio histórico que forneça alguma informação sobre o passado pode ser trabalhado como fonte, porém as fontes escritas e documentais são muito importantes, mas não devem ser fetichizadas como verdade absoluta, mas sim problematizadas de acordo com o contexto histórico em que estão inseridas e trabalhadas de modo crítico. Entre as fontes escritas e documentais, existem, além dos livros: documentos, papiros, pergaminhos, testamentos, cartas e até mesmo escrita em pedras ou blocos de argila como a escrita cuneiforme dos povos Sumérios.
No uso da escrita como fonte histórica, devem ser analisadas, através das revisões bibliográficas, as mais recentes obras científicas disponíveis que tratem do assunto ou que dêem embasamento teórico e metodológico para o desenvolvimento do projeto de um pesquisa além de ampliar a criticidade. Nelas também são explicitados os principais conceitos e termos técnicos a serem utilizados na pesquisa. Também chamada de “estado da arte”, a revisão da literatura demonstra que o pesquisador está atualizado nas últimas discussões no campo de conhecimento em investigação. Além de artigos em periódicos nacionais e internacionais e livros já publicados, as monografias, dissertações e teses constituem excelentes fontes de consulta.
Esse processo é de importância fundamental para que o pesquisador informe à banca examinadora o que ele leu sobre o tema, e evite abordar 'problemas' que já foram esgotados por outros trabalhos. Vale lembrar que revisão bibliográfica é diferente de uma coletânea de resumos ou uma 'colcha de retalhos' de citações; ela consiste numa análise crítica meticulosa e ampla das publicações correntes em uma determinada área do conhecimento.
De um modo geral, a revisão bibliográfica é realizada como parte inicial de um estudo científico, seja no nível da graduação ou pós-graduação, sendo parte fundamental em uma dissertação de mestrado ou numa tese de doutorado. Ela é, pois, fundamental para as pessoas que estudaram e trabalharam muito para desenvolver o conteúdo que no mínimo serviu de base para nossos trabalhos. O direito de reconhecimento de autoria é tão importante, pois ninguém iria gostar se usassem seu conhecimento sem o reconhecimento seus esforços.
FINDLAY, E. A. G. Guia para apresentação de projetos de pesquisa. Joinville, SC: UNIVILLE, 2006.
segunda-feira, 4 de julho de 2011
A Literatura como Fonte.
Refletindo acerca dos tempos modernos, podemos notar que a preocupação com a literatura nos estudos históricos ainda se faz presente em diversas correntes e pensamentos. Dentre os autores do século XIX podemos elencar Wilhem Dilthey, no qual há uma linha tênue entre o que separa a história da arte ou mesmo da literatura; Jacob Buckhardt, refletindo acerca da poesia neolatina no Renascimento Italiano e Marx e Engels, mesmo que em apontamentos diversos e esparsos sobre a Idade Média, literatura russa, dentre outras.
Todavia, uma preocupação mais sistematizada e organizada da literatura enquanto fonte histórica surge somente no século XX, já na primeira geração da Escola dos Annales, de Marc Bloch e Lucien Febvre. Como cunhado por Bloch, em A Apologia da História, a história é ciência dos homens no tempo, de modo que quaisquer vestígios legados pelos homens ao presente são fontes em potencial para a compreensão da história. Assim, não apenas aqueles documentos oficiais adentram o rol de possibilidades de fontes, mas todos os textos, como aponta Febvre:
Os textos, sem dúvida, mas todos os textos. E não só os documentos de arquivos em cujo favor se cria um privilégio [...]. Mas também um poema, um quadro, um drama: documentos para nós, testemunhos de uma história viva e humana, saturados de pensamentos e de ação em potência. (FEBVRE apud FERREIRA, 2009, p. 64)
Portanto, cônscios das possibilidades do uso da literatura enquanto testemunho humano saturado de pensamentos e ações, devemos refletir sobre como utilizar a fonte literária, visto que cada tipo de fonte possui sua linguagem intrínseca e necessita de um determinado trato. Para tanto, nos utilizaremos das reflexões de Erza Pound e
de Antonio Cândido.
De acordo com Ezra Pound (2006) literatura é linguagem carregada de significados, de modo que o poema é uma estrutura condensada na qual o autor se utiliza de elementos formais para exprimir uma mensagem. Com Antonio Cândido, em suas obras Literatura e Sociedade e Estudo Analítico do Poema, podemos perceber que tais significados contidos no texto literário vão além daqueles contidos apenas no poema, havendo uma estrutura interna e externa do texto.
Para Cândido, a estrutura interna é composta por aquilo que está efetivamente dentro do texto, as palavras, rimas, métrica e outros recursos formais. A estrutura externa é aquilo que se encontra fora do texto, onde se encaixam os aspectos históricos, sociais e filológicos referentes ao texto. Deste modo, podemos notar com Cândido que os textos literários são históricos e só são escritos mediante às possibilidades de seu tempo histórico. Assim, o estudo da literatura pelo historiador deve se pautar na análise dialética destas duas estruturas, uma vez que a própria estética também é histórica.
Deste modo, o discurso literário possui profundas raízes históricas, de modo que a partir deste é possível que obtenhamos visões acerca da sociedade de determinadas classes sociais, determinados valores políticos, religiosos, etc. que são expressos esteticamente por meio da literatura. A palavra é um arena, como expressa Mikhail Bakhtin, onde se confrontam valores sociais contraditórios, onde a própria luta de classes pode ser expressada. Assim, a linguagem e as palavras denotam o conhecimento de mundo do próprio autor.
Maria Aparecida Baccega nos dá um exemplo bastante interessante e didático acerca disto, no qual a simples utilização de uma palavra em detrimento de outra altera todo o significado e valores de quem a utiliza. Chegar ou descobrir a América? Questão aparentemente banal que esconde atrás de si discursos e poderes. De acordo com a autora, o uso da expressão chegar mostra que o autor compreende que há populações autóctones que viviam no continente antes da chegada do europeu; no segundo caso o autor do discurso entende que os índios são como uma tábula rasa, sem cultura ou mesmo história.
A partir do que fora exposto pudemos perceber nitidamente que o discurso literário é polifônico e polissêmico, sincrônico e diacrônico, de modo que as possibilidades de trabalho com esta fonte são quase que infinitas, o que justifica Antônio Celso Ferreira nomear a literatura por fonte fecunda. Obviamente os recortes e bom senso do pesquisador devem operar para a prática de uma pesquisa rica e ao mesmo tempo exeqüível.
Além dos recortes é necessário que o historiador conheça sua fonte de modo aprofundado, o que significa que este deverá realizar alguns estudos literários. A abertura da história às múltiplas linguagens inevitavelmente obriga o historiador à busca de uma nova erudição, como aponta Elias Thomé Saliba. No entanto, por vezes, essa busca pela nova erudição tem dissipado a fronteira entre a história e a literatura e entre a ciência e a ficção.
Antonio Celso Ferreira aponta para a existência de um crítica pós-modernista, que também encontra eco na própria historiografia, que defende que a história é fundamentalmente uma narrativa como a literária. Um dos maiores expoentes dessa corrente é Hayden White, que propõe que as narrativas históricas são “ficções verbais, cujos conteúdos são tão inventados como descobertos, e cujas formas têm mais em comum com suas contrapartidas na literatura do que na ciência.” (WHITE apud FERREIRA, 2009, p. 77)
Retomar o pensamento de Marc Bloch nesses momentos é realmente eficaz e oportuno. Para Bloch, o historiador deve ser, de fato, interdisciplinar, dialogando com as mais diversas áreas do conhecimento e se utilizando das mais diversas fontes possíveis, mantendo sempre a sua identidade de historiador: o cientista dos homens no tempo. Antônio Celso Ferreira também faz apontamentos nesse sentido:
Essa lembrança é essencial para o pesquisador que trabalha com textos literários, sobretudo os de ficção histórica. É certo que o caráter polifônico destes, pelo diálogo que estabelecem entre as diferentes vozes das personagens, além da voz do narrador, possibilita a investigação da complexidade do imaginário histórico, da diversidade das ideologias e dos modos como os diferentes indivíduos ou grupos sociais se inserem dentro dele em determinadas épocas. Contudo, tais representações constituem sempre um universo ficcional, por mais verossímil que seja. O papel do historiador é confrontá-las com outras fontes, ou seja, outros registros que permitam a contextualização da obra para assim se aproximar dos múltiplos significados da realidade histórica. (p. 77)
Portanto, o trabalho com a literatura pelo historiador é um trabalho que exige a crítica da fonte e o estabelecimento de uma metodologia para este fim, de modo que o discurso do historiador se torna um discurso científico, em uma concepção de ciência que não almeja uma objetividade ou uma verdade absoluta, mas que buscar a apreensão de alguns aspectos da realidade histórico, mesmo que de modo aproximado ou representativo.
Sabendo-se disso e tomando todos os cuidados necessários à pesquisa em história, a literatura se torna um campo vasto, prazeroso e fecundo ao historiador que se dedica a esta, podendo abordá-la tanto pelo viés estético ou de seu conteúdo; articulando ambos; refletindo acerca da historicidade de um movimento literário em específico; ou mesmo pensar as proposições de um autor ou o conflito entre dois ou mais autores.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARISTÓTELES. Arte Poética. Tradução: NASSETI, Pietro. São Paulo: Editora Martin Claret, 2006.
BACCEGA, Maria Aparecida. Palavra e Discurso: Literatura e História. São Paulo: Editora Ática, 2000.
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. Tradução: LAHUD, Michel; VIEIRA, Yara Fratechi. São Paulo: Editora Hucitec, 12ª Edição, 2006.
BLOCH, Marc. Apologia da História ou o Ofício do Historiador. Tradução: TELLES, André. Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar, 2001.
CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade: Estudos de teoria e história literária. RJ: Editora Ouro sobre o Azul, 9ª Edição, Rio de Janeiro, 2006.
FERREIRA, Antonio Celso. A Fonte Fecunda. In: PINSKY, Carla Bassanezi (org.); DE LUCA, Tania Regina (org.). O historiador e suas fontes. São Paulo: Editora Contexto, 2009.
POUND, Ezra. ABC da Literatura. Tradução: CAMPOS, Augusto de; PAES, José Paulo. São Paulo: Editora Cultrix, 11ª Edição, 2006.
SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão: Tensão social e criação cultural na Primeira República. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2ª Edição, 2009.
Discente: Marcus Vinícius Furtado da Silva Oliveira.
Sobre o uso de fontes fotográficas
- Investigação da intencionalidade da fotografia;
- Interpretação do momento histórico em que este documento produzido se insere, bem como dos elementos presentes na fotografia;
- Crítica aos caminhos percorridos por essa fotografia, bem como as suas possíveis (re) significações.
O uso de programas televisivos como fonte histórica
Atualmente, não há como pensar em nossa sociedade sem relacioná-la com a televisão. Ela está inserida em nosso contexto, tanto cotidiano quanto global, fazendo parte de nossas histórias. Quem não se lembra, com saudade, dos programas que assistia quando era mais jovem? Podemos afirmar que a televisão é um próprio meio de entrar em contato com o passado, de voltar às suas raízes. Justamente por ter esse poder que a televisão pode ser usada como documento histórico, uma vez que (muitas vezes) está imerso na própria história de um determinado lugar, registrando os acontecimentos e se tornando elemento ativo da história.
Os pesquisadores de história têm encontrado certas dificuldades em trabalhar com o meio televisivo, devido a algumas barreiras que se colocam durante a pesquisa. Acerca disto, Marcos Napolitano em seu ótimo texto A história depois do papel, afirma:
A própria televisão, talvez devido ao seu caráter de produto cultural volátil, tem muita dificuldade em guardar e sistematizar a sua própria memória. Na medida em que os órgãos e arquivos públicos não assumiram a guarda do material televisual como parte de uma política de preservação de patrimônio, a maioria dos arquivos existentes é privada e pertence às próprias emissoras, que, por sua vez, os tratam como desdobramentos das suas atividades comerciais (NAPOLITANO, 2005; pag. 247-248)
Devido a estes problemas, muitos pesquisadores se sentem desmotivados para trabalhar com os arquivos referentes à televisão, pois eles não se enquadram na definição tradicional de “fonte histórica”. No entanto, mesmo com os problemas referentes aos direitos autorais e monopólio de arquivos por parte das emissoras, eles são dignos de serem estudados, por mostrar uma importante parte da história.
É preciso cuidado ao analisar a televisão como fonte histórica, pois ela tem um apelo social muito grande, sendo recebida de formas diferente pelas diversas camadas sociais. Além disso, é importante saber que a televisão é, muitas vezes, de caráter notadamente manipulativo, onde os programas são exibidos com finalidade de controlar ou direcionar uma parcela da população. Notadamente durante a ditadura militar, isso ocorreu de forma sistemática.
Mesmo que ela, por vezes, apresente este caráter, ainda é válido analisá-la. Muito pode ser aprendido se assim for feito. Nos arquivos das grandes emissoras de TV, existem verdadeiras jóias, como os festivais de música tradicionais dos anos 60, ou o a cobertura de momentos como a queda do Muro de Berlim. Se pensarmos neste sentido, podemos perceber a validade dos registros televisivos como fonte histórica, uma vez que ela nos fornece dados valiosos sobre a interpretação do passado. Logicamente, esses dados devem ser analisados com cautela, mas, não devemos, como sugerem alguns pesquisadores, descartar os registros televisivos totalmente. Fenômenos como a diversidade de mensagens emitidas pela televisão, impacto social que elas apresentam, e mistura de significados com outras mídias podem sim atrapalhar uma potencial pesquisa a respeito do assunto.
Talvez a maior dificuldade seja mesmo o caráter privado dos arquivos televisivos. Cabe ao pesquisador contornar este obstáculo para fazer uma boa pesquisa nesta área, considerada como pioneira por muitos estudiosos acerca de fontes históricas.
Bibliografia
NAPOLITANO, Marcos. A história depois do papel. In: Fontes históricas. Pinsky, Carla B.(org.). São Paulo: Contexto, 2005.
BOURDIEU, Pierre. Sobre a televisão. Ed. Jorge Zahar, 1997.
ORTIZ, R. A moderna tradição brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1988.
Discente: Brunno Silva Martins