domingo, 29 de maio de 2011

RECEITA: O BOM HISTORIADOR

O historiador, esse ser que, comumente, pensa-se, está imerso em papéis velhos e livros, a procura de pistas que revelem como os homens construíram suas experiências e configuraram a sociedade.
Como caracterizar o historiador?  Como ele constrói o conhecimento histórico?

São questões existenciais, para as quais deve haver respostas plausíveis!!
São questões que urgem respostas!!


 
Contribua, fornecendo uma "receita".  Não se esqueça: toda receita deve apresentar os ingredientes e detalhar o modo de preparo para obter sucesso.


quinta-feira, 5 de maio de 2011

Dilemas do historiador, da visão telescópica ao jogo de escalas

            Ser historiador hoje em dia não é uma tarefa fácil. Antes de qualquer coisa, precisamos vencer a desconfiança natural em relação ao nosso trabalho, principalmente por parte das pessoas que nos cercam. Não são poucos os olhares de desconfiança que recebemos quando ingressamos no curso, bem como as comparações com outras pessoas das mais diversas áreas. Fato é que, fora os dilemas pessoais que um historiador enfrenta atualmente, existem inúmeros dilemas que temos que lidar ao desenvolver nosso trabalho.
            O que vamos estudar? Como vamos lidar com os novos conteúdos? Seriam eles muito diferentes dos quais estávamos acostumados? Essas são só algumas das muitas perguntamos que nos fazemos no começo do curso. Com o desenrolar do mesmo, percebemos que existe muito, muito mais a ser desvendado em nossos estudos, tanto como estudando outros autores, como produzindo nossas próprias obras. Um desses dilemas, que pode vir a se tornar um problema e tanto, diz respeito ao que colocaremos aqui como a visão telescópica e o jogo de escalas.
            Durante muito tempo o que prevaleceu nas pesquisas em história foi a chamada visão telescópica, ou seja, uma visão proveniente de um amplo campo de pesquisa da área. Esta visão ficou tão arraigada em nossos estudos, que durante muito tempo (e inegavelmente ainda hoje) somos apresentados á história por meio de fatos escassos e grandes figuras heróicas que podiam resolver guerras ou construir impérios “magicamente”. Os estudos de história sob a ótica da visão telescópica apresentam justamente esta alcunha de história baseada em grandes figuras e fatos determinantes em determinado contexto e época.
            Essa prática historiográfica só veio a se alterar de forma significativa no final do século XX, com um movimento que ficou conhecido como História Nova. A principal característica da História Nova foi justamente a diversificação de seus objetos de estudo, passando a tratar de temas nunca antes pensados, como história das crianças, da culinária ou das festas (somente citando alguns exemplos). Um dos grandes responsáveis por esta mudança foi a Escola dos Annales, grupo de estudiosos franceses de imensa influência no campo historiográfico, até nos dias de hoje.
            Ora, confrontado com essa mudança tão significativa, o historiador se viu diante de um dilema: continuar com a tradicional visão telescópica, ou então passar a abrir mais a mente para a micro-história. Entende-se por micro-história tudo aquilo que é passível de ser transformado em objeto histórico, mas que não o é por apresentar uma aparente “simplicidade” em sua forma ou conteúdo. A história do cotidiano, da vida comum de uma população ou grupo de pessoas, temas regionalistas de trabalho, tudo isso pode ser considerado como micro-história.
            É justamente com esse jogo de escalas e dilemas que o historiador precisa estar preparado para lidar. Em diversos momentos seremos obrigados a optar por um e isso às vezes pode ser uma escolha de bastante peso em sua vida. Mesmo assim, fazendo esse jogo de escalas, conseguimos trabalhar diversos temas das mais variadas áreas, aumentando assim nossa gama de conhecimentos. Acerca desta oposição entre visão telescópica e micro-história, Tânia Regina de Luca, em seu excelente texto História dos, nos e por meio dos periódicos, afirma:
“Ao longo do trajeto, a visão telescópica, proveniente do amplo campo de observação e das séries quantificáveis que não prescindiam do auxílio do computador – o mesmo Ladurie afirmou, em tom de ironia, “de agora em diante ou o historiador será programador, ou não será historiador” – foi confrontada com o olhar da micro-história, sensível e aos detalhes e objetos modestos, o que colocou em pauta a questão dos complexos “jogos de escalas” manipulados pelos historiadores.” [pag. 114]
            Como se pode perceber analisando este trecho, o historiador é confrontado com uma série de dilemas relacionados ao já mencionado jogo de escalas. À medida que nossos conhecimentos na área aumentam, bem como nossa experiência na prática de historiador, seremos capazes de melhorar nossa postura em relação a este conflito. A história já foi restringida pela visão telescópica durante tempo demais. É necessário existir um equilíbrio entre ela e a micro-história para que possa ocorrer uma real produção de conhecimento acerca de determinado recorte histórico. Tudo se trata um balanço entre os dois, balanço este que pode ajudar, e muito, um historiador em suas diversas pesquisas na vida acadêmica.

Autores: Brunno Silva Martins
                Matheus Kaneko da Silva
                Robert Mori
                Lucas Silva Nangi dos Santos

Bibliografia Complementar:
LUCA, Tânia Regina. A história dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla Bassanezi (org.). Fontes Históricas.São Paulo: Contexto, 2005.

Paleografia, o estudo da escrita antiga

Qual pesquisador seja ele estudante (nos projetos de Iniciação Científica ou pesquisas do gênero) ou mesmo historiadores, que nunca se sentiu em “apuros” ao se deparar com aquele desejado documento antigo, aquele elemento fundamental para sua pesquisa, que devido à caligrafia e à ortografia corrente em uma determinada época, torna-se um “bicho de sete cabeças”? De uma possível contribuição ao seu trabalho, o documento torna-se um “problema”.
Os cursos de História de uma maneira geral, ainda não se deram conta da importância do ensino ou mesmo de noções de uma ciência: a Paleografia. Etimologicamente falando, paleografia é um termo cuja origem advêm da Grécia, sendo que “paleo” significa antiga e “grafia” escrita, ou seja, “o estudo da escrita antiga”, podendo esta ser considerada uma ciência aliada da História.
Assim, as técnicas da paleografia permitem a leitura e conseqüentemente a transcrição e interpretação dos documentos antigos, dentre os quais, os manuscritos. A paleografia também é um grande aliado da lingüística, pois permite uma excelente análise das transformações sofridas pela língua de um povo em diferentes períodos cronológicos.
Porém, é na Arquivística, ou melhor, nos profissionais que se dedicam à tal função, é que a paleografia mostra-se de grande importância, pois é a partir da leitura de documentos e posterior classificação, que os pesquisadores (lingüistas, historiadores e outros) podem recorrer aos arquivos existentes, procurando realizar suas pesquisas. Não é atoa que entre as disciplinas do curso de Arquivologia (ainda pouco numerosos no Brasil, diga-se de passagem) está a paleografia.
A abundância de documentos existentes no país, conservados e acondicionados nos mais diversos ambientes, do período colonial ao republicano, exige muitas vezes o conhecimento da paleografia para sua leitura, transcrição e posterior interpretação. Soma-se a isso, atualmente, a disponibilização de documentos digitalizados na internet.
Sim, caro internauta! Atualmente alguns Arquivos disponibilizam documentos de seu acervo, cujo acesso está ao alcance de todos, bastando para isso estar conectado a um computador com internet. Isto democratiza e facilita o acesso ao documento a qualquer pesquisador, sem que ele saia de sua casa. No Brasil, temos o site do “Centro de Memória Digital da Universidade de Brasília” (CMD/UNB), cujo acervo do Arquivo Ultramarino de Portugal está disponível para consulta.
Muitos pesquisadores afirmam que a leitura destes documentos antigos fica mais fácil com o passar do tempo, com o contato permanente do pesquisador com estas fontes. Porém, não podemos negligenciar a inestimável importância das noções de paleografia para o bom desenvolvimento do trabalho dos historiadores.
Os paleógrafos, peritos nesta ciência, conseguem mediante a análise de um documento, verificar sua autenticidade, determinar a interferência de outros agentes no processo da escrita, além de serem conhecedores das normas de transcrição. Ou seja, é um profissional da mais alta importância para Arquivos bem como para os pesquisadores.
Encerrando esta nossa participação, aproveitamos para comunicar aos interessados que ocorrerá em Campos dos Goytacazes, estado do Rio de Janeiro, o “I Congresso Brasileiro de Paleografia e Diplomática” que será realizado entre os dias 18 e 20 de Maio de 2011. As inscrições já estão abertas.

Autores: Brunno Silva Martins
                Matheus Kaneko da Silva
                Robert Mori
                Lucas Silva Nangi dos Santos

Links úteis:
I Congresso Brasileiro de Paleografia e Diplomática


Centro de Memória Digital da Universidade de Brasília (CMD/UNB)


sábado, 30 de abril de 2011

Fontes Históricas

Em boa medida, a construção da escrita da História e suas reflexões inerentes são interpeladas por um dilema que perpassa os olhares analíticos de diversos historiadores: a utilização da visão telescópica ou do jogo de escalas. Como já apontado sabiamente por Laura de Melo e Souza, todo historiador digno desse nome, periodiza e se vale de recortes na confecção de suas pesquisas, no entanto, o modo como tais recortes e visões da história foram praticados ao longo do tempo nem sempre fora o mesmo, uma vez que estas são historicamente construídas e derivam das concepções do pesquisador acerca do que é história.
Nesse sentido, é importante vislumbrarmos como tais elementos eram vistos nos principais movimentos historiográficos dos últimos séculos, em uma abordagem bastante panorâmica, articulando-os também com o pensamento contemporâneo, afinal, a história é constituída das questões do presente, de inúmeros “agoras“, como sugeriu Walter Benjamin.
Durante muito tempo a escrita da História se ancorou em narrativas que apreendiam temas majoritariamente políticos. É importante ressaltar que aqui a política assume um caráter reduzido, restringindo-se aos governos, reis e príncipes. Desta maneira, os recortes já se encontravam estabelecidos, pois o próprio objeto de estudo da história também o estava. Estávamos, portanto, segundo René Rémond, diante de uma história factual e individual.
Todavia, não devemos ser reducionistas e atribuir essa concepção de história apenas ao positivismo ou ao historicismo, encarando ambos como correntes similares ou iguais, quando, na verdade, são completamente divergentes, até antagônicas. Posto isto, não devemos nos alongar nessa discussão, uma vez que este não é nosso objetivo em si e também por tal discussão extrapolar os limites deste espaço.
Considerada por Peter Burke como a “Revolução Francesa da Historiografia” e por José Carlos Reis, como uma renovação teórico-metodológica, a Escola dos Annales certamente amplia e desenvolve as noções básicas de fontes históricas. Assim, as fontes que antes eram restritas apenas aos documentos escritos, no caso dos positivistas, e a alguns símbolos, como no caso de historicistas a exemplo de Dilthey, são agora todos os vestígios produzidos pelos homens no tempo, como formulou Marc Bloch.


Marc Bloch (1886-1944), um dos fundadores da Escola dos Annales.
Em análise mais profunda, esse novo trato documental revela uma nova concepção acerca da história, uma nova representação do passado inaugurada pelos Annales. Há, portanto, um passado condicionado pelo presente e suas questões que engloba diversos atores, diversas possibilidades, temas, fontes, dimensões e abordagens da história. Deste modo, a história aspira, até certo ponto, a uma certa totalidade, buscando interligar as várias dimensões do homem e suas criações.
As contribuições, por exemplo, ao longo do tempo da história cultural nos demonstram tal fato com clareza quando passam ao considerar elementos da história oral ou a literatura – criando-se por vezes interessante interface com a arte e lingüística - abrindo-se ainda mais o leque de análise histórica. Ademais, com as recentes inovações tecnológicas, não podemos deixar de desconsiderar as fontes audiovisuais, bem como as virtuais, campo novo ainda a ser trabalhado pelos historiadores.
No bojo dessa contínua ampliação os dilemas e os perigos ao historiador se intensificam, ao ponto da ocorrência de uma fragmentação da historia, ou da existência de uma história em migalhas, como conceituou François Dosse, com certa dose de exagero e razão. Assim, diante desse amplíssimo panorama de possibilidades de análises históricas, o que devemos abordar? Quais recortes e quais fontes devemos utilizar? Devemos olhar as folhas da árvore, a árvore, algumas árvores ou toda a floresta, sabendo que em cada análise muito não será respondido, por mais que as perguntas surgem no decorrer da pesquisa?
De fato, a curiosidade e ânsia dos historiadores, sobretudo dos jovens e iniciantes, são enormes. No entanto, é necessário que o historiador possua determinado bom senso e crítica na delimitação de seu tema, para que o mesmo não opte por algo inviável que ultrapasse suas próprias possibilidades de pesquisa. As grandes sínteses ainda são possíveis, ao contrário do que pensam os pós-modernos, contudo, suas dificuldades são imensas e talvez somente os historiadores mais maduros consigam executá-las. O extremo oposto também é possível, como já provou a micro-história, o retorno das biografias e as histórias locais e regionais.
Deste modo, é fundamental o trabalho com as fontes e sua respectiva crítica. Os problemas e as delimitações surgem no âmbito das fontes, na atuação do historiador enquanto sujeito e objeto desta que, por sua vez, também é sujeito e objeto, em uma relação dialética. Para concluirmos, é sempre oportuna a leitura e os conselhos de Bloch: devemos ser interdisciplinares, pesquisar aquilo que as aspirações do presente nos ditam, mas, acima de tudo, devemos sempre manter a cientificidade da história. Assim, o dilema entre a visão telescópica e o jogo de escalas deve ser solucionado pelo historiador dentro da ciência histórica e, talvez a perpetuação e o repensar dessa ciência sejam a solução para tal dilema.

A pesquisa documental sob o prisma de um historiador

"Para exemplificar o trabalho com documentos, posso citar uma experiência que tive no Arquivo Público de Uberaba durante o IV período. Ao chegar no APU, tinha em mente que teria contato com documentos sobre a escravidão em Uberaba e região e a princípio até tinha um tema como norte da minha busca investigativa em meio aos “restos do passado”.
Ao analisar o catálogo dos documentos presentes sobre escravidão me deparei com uma imensidão de fontes sobre o mesmo tema, dentre eles resolvi delimitar minha análise aos processos crimes do final do Império.
Tive então o primeiro contato com o livro que continha os processos crimes da época selecionada, após passar por páginas e páginas de relatos do passado um processo me chamou atenção de uma forma que posso dizer que senti o cheiro da minha caça. O processo citado faz referencia a um caso de dois senhores que compram metade de um mesmo escravo para uso comum deles.
O contato propriamente dito com o documento foi desafiador, por se tratar de um olhar para o passado e pela diferente ortografia presente no documento forense. Justamente com a presença desse desafio proposto pelo documento ao historiador é que se constrói o diálogo entre o pesquisador e o documento analisado, emergindo assim o problema que irá nortear a pesquisa histórica. Aliado a esse exaustivo trabalho de interpretação – incluindo a análise linguística histórica – se faz necessária uma prática comum quando tratamos de documentos, a transcrição. Essa etapa depende totalmente do trabalho anterior citado uma vez que só podemos transcrever aquilo que conseguimos identificar como escrito. Dentro da experiência vivida devo frisar aqui que nem todas as expressões foram identificadas com clareza, visto que se trata de um documento do final do século XIX." Rodrigo Peres


Além disso, encontramos uma interessante entrevista do historiador Dr. João Carlos de Souza, acerca do trabalho com as fontes históricas. Vale a pena conferir:




Alunos: Anna, Rodrigo, Marcus e Keyller.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Acerca do documento

 A partir do excerto de Umberto Eco, o simpático grupo de meninas elaborou uma interessante reflexão. Deixe-se envolver:

       Para começarmos a atividade sobre o excerto de “Baudolino”, pretendemos expor este e os pontos principais dos textos vistos na disciplina de EDP – Educação e Desenvolvimento de Projetos 5 – para que, só após, fechemos nossa interpretação sobre aquela.

“Se queres transformar-te num homem de letras, e quem sabe um dia escrever Histórias, deves também mentir, e inventar histórias, pois senão a tua História ficaria monótona. Mas terás que fazê-lo com moderação. O mundo condena os mentirosos que só sabem mentir, até mesmo sobre coisas mínimas, e premia os poetas que mentem apenas sobre coisas grandiosas”.
(Umberto Eco, Baudolino )

O primeiro texto a que tivemos acesso na Unidade Temática foi o de Leandro Karnal, “A memória evanescente”, capítulo inicial do livro O historiador e suas fontes, organizado por Carla Pinsky e Tania Regina de Luca. Neste encontramos um tema que já discutimos anteriormente em outros momentos do curso: a questão das fontes. Tal tema fez com que recordássemos do ensaio que fizemos no segundo período do curso – no qual, por meio dos textos que tivemos acesso durante o semestre, tivemos que estruturar uma obra particular, baseada nos textos estudados. Assim, nossa interpretação se misturaria e se basearia nas outras já presentes nestes textos – mas sem um “toque” pretencioso ou inventivo. Esse “toque” fez com que a estruturação e trato com as fontes fosse único e ímpar para a nossa construção enquanto historiadores. Soubemos os limites e as várias informações que pode-se retirar de um texto sem ao menos substituí-lo por outra fonte/viés. O “ver as entrelinhas” e o como a fonte pode despertar inúmeros olhares – mas os “bons olhares”, que sabem como a inferir/retirar uma construção fortificante – foram pois um dos primeiros contatos e ensinamentos que tivemos com à analise de fontes.                  
     O texto citado acima reforça a experiência que tivemos e trata/quer mostrar exatamente a complexidade das fontes. Relata que, no começo, somente material escrito – como cartas, escrituras, etc – eram considerados “verdadeiros documentos” e pois “verdadeiro material para passível construção de uma história”.
Já com o surgimento dos Annales e o estudo da micro-história, “documento” passa a ter outra interpretação/uso, passando a ser tudo o que retrata a ação do homem – como arte, oralidade etc. Isso equivale, pois, a dizer que houve uma ampliação de objetos e de sujeitos que agora são suscitados e trazidos à tona, desconstruindo certas formulações instituídas – politicamente, inclusive – e que modulam novos vieses de interpretação de uma mesma temática.
É em cima de tal questão/com base nisso é que o autor vai tratar da questão da “veracidade” das fontes. Se tudo o que era documento era verídico, porque então construir uma “nova história” em cima dos documentos? E agora, com a ampliação de fontes, tudo também é verídico ou atende a perspectivas da História? Como valer-se de um “verdadeiro” fato histórico ou de um “simples” fato? Vale, pois delinearmos isto melhor.
O autor ressalta e questiona no texto a questão da falsificação dos documentos ao longo de todo história. Os Faraós – no Egito antigo – já falsificavam documentos e tal “prática/hábito” se prolongou até o nosso presente – o que nos ilustra bem o “perigo” de se prolongar a questão de “documento” como obra puramente verídica. Juntando a esta ideia e passagem, há outro episódio interessante que relata a falsificação dos “diários de Hitler”. Neste presente episódio, os falsários não tiveram muita sorte e acabaram presos.
O que fazer nesta circunstancias? Como agir?
Até hoje persiste uma busca incessante pela autenticidade/verossimilhança dos documentos. Desta maneira, a ideia central de tal texto nos ilustra não somente o difícil trato do historiador com a sua fonte, mas, também, que os documentos são construções “humanas” e que, portanto, atendem aos mais diversos anseios e circunstâncias. Para isso, o historiador que aventura-se pelas construções e pesquisas que lhe interessem – demonstrando aí que o historiador apesar de ser um sujeito nem tão “não-determinista” assim, já que mostra seu anseio de optar em um tema e não em outro – deve tomar cuidado.
A fonte está dada, mas a construção desta deve passar pelos seus instrumentos adquiridos na qualificação de graduação, etc – que são o suporte que somente este tem para construir algo “fortificante” à História em geral. Portanto, o “construir uma história” é saber que ela está/é passível de desconstrução. E que o documento histórico – como o autor, Leandro Karnal, define – é “em, síntese, (...) qualquer fonte sobre o passado, conservado por acidente ou deliberadamente, analisado a partir do presente e estabelecendo diálogos entre subjetividade atual e subjetividade pretérita”. (KARNAL, 2009)

       Já no segundo texto que estudamos, intitulado “Aventuras modernas e desventuras pós-modernas” de Elias Tomé Saliba – presente no mesmo livro –, este dá continuidade a discussão em torno das fontes. Relata uma questão de uma história mais presente, como a do holocausto, ocorrido na Segunda Guerra Mundial; a então denominada “história dos mortos-vivos”. Explica-se que em tal ocasião, a denominação advém da história relatada por pessoas que viveram certos momentos históricos e que, porém, não compartilham (e se compartilham, compartilham pouco) da história em que viveram/acumularam com seus descendentes/antepassados. Desta maneira, existe uma grande preocupação pelos historiadores para que tal história não seja esquecida ou distorcida após a morte da ultima testemunha de determinado momento histórico.
Ao passo que existe esta preocupação, também há outra questão em que o autor também observa/coloca em questão: que há uma busca exagerada pela verdade absoluta da história pelos historiadores.
Sob a égide destas questões, porém, o autor tem uma conclusão que traz um ponto de vista muito interessante: que a construção da historia é uma questão de escolha, ou seja, os documentos não existem de formas isoladas – eles não são restos do passado, mais um produto dele. Os “pontos de vista”, “o que” preservar e o “como” preservar, serão ditados às necessidades pela qual a estrutura cotidiana do historiador o exercita/suscita ou a necessidade de construção/desmistificação da qual a temática o apreende. O documento não vai dizer o que representa: cabe aos historiadores determinarem o significado destes – e que portanto/a partir disso, cada um terá um ponto de vista distinto/interpretação distinta do outro.
Segundo o autor – e reforçando; contudo encerrando este segundo texto – “o documento escrito ou não escrito é um pequenino ponto de toda série de estruturas humanas desaparecidas que, por capricho, fruição, contingência – e até mesmo algumas excentricidades – acabaram por sobrar e subsistir no presente”. (SALIBA, 2009)

            Com base nas duas exposições de textos vistos e o excerto de Baudolino, acreditamos ser de mais fácil visualização a proposta de tal atividade. Por Baudolino, apreendemos que parece ser mais “fácil” mentir para adquirir popularidade em um primeiro momento que simplesmente ser verdadeiro. Porém, como o mesmo fala, a mentira esvai se não ser bem contada ou se não ser direcionada de alguém que transparece “ser verdadeiro”. Mesmo assim, qualquer poeta (e aí, aquele que escreve sem o instrumental comparável do historiador) que retrate tal circunstancia, muitas vezes ganha o “reconhecimento” por tal feito ou por ter “dado o valor” à fonte de algum dado momento.
            Fica, nas entrelinhas portanto que qualquer um pode escrever qualquer história –  se não se tem um “filtro” de todas as coisas que chegam; uma construção do subjetivo que pode interferir no real, dependendo das circunstancias. Porém, “qualquer” história não pode ser aceita numa pesquisa/delineação/desmistificação de um historiador. Portanto, quando se exalta a qualidade de discussão de textos sobre fonte, é justamente o que o historiador deve ater-ser/voltar seu olhar quando pautar-se a escrever uma tese/temática delineada.
            O historiador aí distingue-se da faculdade de outros escritores justamente por ter o cabedal instrutivo de “como lidar” com as fontes e “como ater-se” à alguns parâmetros – sem querer pois um dado “reconhecimento” ou outra coisa que não seja apenas o “fato bem construído”. O determinismo – no que se refere a temática – deve tentar ser o menor e que, portanto, a verossimilhança dos fatos e estruturas sejam os seus objetivos sobre um dado momento histórico. Saber que sua construção – repetindo o que dissemos anteriormente – é passível de desconstrução com as novas fontes surgindo a todo o momento é que deve aliar/ajudar o pesquisador a entender a sua área e sua atuação enquanto profissional.
            Uma mentira formulada e repetida não deve ser o cabedal de instrução de um historiador e, evidenciando com a discussão do segundo texto, a “verdade incontestável” só deve ser chegada após a transformação de determinado fato em um verdadeiro – e portanto desmistificado – fato histórico – lembrando que este, como já disse, é (re)construído.
Ao passo que uma construção é desmistificada, não se pode desconsiderá-la também por inteiro: buscar suas causas de construção e servir de referencial deveras fortificante se deve apenas no “como” o historiador sabe manejar suas fontes. Portanto, nem toda mentira deve ser desconsiderada (como Baudolino de certa forma afirma), mas sim como ela é manejada/trabalhada/interpretada pelos historiadores que com seu cabedal oferece informações construtivas.

Autoras: Kamilla, Karine e Marcela.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Bem-vindos aos domínios de Clio

- Sejam muito bem vindos!
Este “blog” foi criado viabilizando discussões do curso de “História” da UFTM para a UT intitulada “EDP 5”.
EDP 5 é uma unidade temática ministrada pela docente Sandra Mara Dantas e que articula discussões historico e historiográficas do período e que nesta etapa da formação acadêmica, aborda o caráter teórico e prático dos variados conjuntos documentais e suas formas de utilização na produção do conhecimento histórico, na pesquisa, no ensino e na extensão.
Sendo assim, a proposta deste blog é o acúmulo de documentos (impressos, visuais, sonoros, materiais, etc), pesquisa bibliográfica, curiosidades, (entre outros) com base nas bibliografias estipuladas pela disciplina e aperfeiçoadas por tais discentes.
O blog é de acesso público e comentários fazem parte do engrandecimento deste e dos discentes.
No mais, até a próxima!
Marcela Cristina de Faria.